sábado, julho 30, 2005

Pensamentos Soltos - I

Você encontra mais a felicidade quando esquece que essa palavra existe.

Tem um pouco de Igreja no seu próprio lar, um pouco de padre em seu melhor amigo e um pouco de bíblia em qualquer livro de poesia.

A intensidade de um momento não pode ser medida pelo tempo.

Toda tristeza é uma felicidade envelhecida.

Sonhar dói de vez em quando. Viver sem sonhos dói quase o tempo inteiro.

O que eu quero ser no futuro é o que eu deveria ter sido no passado.

Viver daqui a pouco é não viver nunca.

Você não pode apagar uma lembrança ruim, mas pode reeditá-la.

Escrever sobre uma dor não faz ela desaparecer, mas me faz acreditar que eu a domino.

Depois que você esquece um grande amor passa a lembrar que o esqueceu.

Toda certeza é uma intuição metida a besta.

Um amigo verdadeiro não tenta apagar sua dor, tenta sentir um pouco dela.

Não gosto de regras. Não sigo nem as minhas.

Meu caminho muda o tempo inteiro. Mas essa regra também muda.

Viver de regras é uma irresponsabilidade.

O lado perfeito de quem eu amo é um defeito meu.

Quem diz para você que é uma pessoa inocente não é.

Ordenação me confunde. O que eu desejo não obedece seqüência .

Seu melhor amigo não sabe tudo a seu respeito, mas sabe de coisas que nem você sabe.

Eu tenho uma alegria de viver é como um Sábado a noite. Mas como diz meu amigo Vitor Freire: a vida é feita de segundas-feiras.

Você ter aprendido uma lição não significa que não voltará a errar.

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sábado, julho 23, 2005

Amor Proibido - III

Eu queria escrever uma saudade alegre. Saudade de quando você ainda era uma ilusão boa. Escrever do seu sorriso que me matava. Eu queria escrever da fidelidade dos meus olhos a sombra dos seus movimentos. Queria poder escrever um livro inteiro com seus movimentos. Escrever uma saudade. Mas tocar nestes assuntos é beirar um precipício alto. Retornar na sua lembrança é como cair de cabeça. Então eu fico escondendo seus textos como quando evito a sua foto gravada no meu celular pela manhã para não ter que lembrar o dia inteiro que eu te esqueci. Perdoe-me por não ter lhe dito antes o que não tinha necessidade nenhuma de te dizer. Mas eu achava que algum momento da nossa historia iria nos unir . Eu devo ter começado a te amar assistindo a algum destes filmes de romance que agente vê na tv, antes mesmo de te conhecer. Depois que aconteceu passei o resto do tempo descobrindo os motivos. Um dia você acabou ficando real demais para mim. Então eu fico inventando essas lembranças adolescentes desenhadas nas linhas destes textos para que o cinema não se apague, a mocinha não perca seu encanto e eu não esqueça das cenas que eu mais gostei. Com o tempo eu acabei aprendendo que você não é o meu personagem-perfeito, mas foi o que existiu de mais próximo. Depois que eu perdi a sua ilusão eu acho que passei a gostar um pouco menos de cinema. E tenho desapego por romances. E um verdadeiro desprezo por contos de fadas. Eu podia ficar aqui escrevendo destas histórias que passaram terra-do-nunca que existiu dentro de mim todos aqueles anos. Eu podia escrever das cenas encantadas com trilha sonora do meu cd predileto que eu te dei de presente. Mas eu tenho uma vida real e às vezes temo que pensem que eu ainda acredito em romance de filme besta. Quando eu falo de você eu falo mesmo do meu lado mais besta .O meu lado impróprio a gostar de você de forma simples como em vida real. Falar de você é voltar a acreditar naquelas coisas que eu passo o tempo inteiro fingindo que não acredito mais. Falar de você é expor aqueles segredos que a gente guarda só para gente a vida inteira. É me dar chance de voltar lembrar das situações felizes que eu ainda não criei para nós dois. Falar de você é mais do que um despertar de lembranças irreais. É correr um risco assustador de ser bem entendido. Falar de você é vencer o meu medo de escrever.

Fernando Palma, Julho de 2005

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quarta-feira, julho 20, 2005

PARE


Sou uma pessoa que se perde facilmente, por qualquer lugar por onde ande. Talvez seja por isso que meu corpo tenha aprendido a criar atalhos, fazer caminhos alternativos, imprevistos. Às vezes encontro destinos que jamais imaginaria alcançar, tomando estas direções diferentes. É impressionante como as pessoas insistem em querer orientar os meus rumos. Não desprezo conselhos, os aprecio. Mas não me obrigue a parar onde não quero. Não tente regular meu ritmo. Não me diga que tenho que seguir à esquerda. Sou destro, esqueceu? Não me envie infrações, eu irei recorrer. Não tente adivinhar por onde eu passei, nem encontrar onde devo ir. Não se importe se eu sigo a trilha errada agora: meu caminho é longo e o vejo mudar o tempo inteiro. Cada um deve aprender a desconhecer a própria estrada de sua vida.

Orientação correta em excesso só confunde. O essencial é seguir.


Ps: Depois do incentivo de meu grande amigo Rodrigo e algumas adaptações decidi postar este novamente.

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segunda-feira, julho 18, 2005

Palavras Mudas - II


Algumas Vantagens da Linguagem Não-Verbal

1) Um beijo dispensa explicações.
2) Um sorriso economiza elogios.
3) Um olhar nunca mente, se engana ou se arrepende.
4) O silêncio não tem limites de vocabulário.


Uma Desvantagem

Nos desperta um desejo inútil de traduzir em palavras.

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sexta-feira, julho 15, 2005

Aos meus dias que foram nossos

Me abraço, com força
No seu corpo ausente.
Uma ausência que, sem explicação, carrega seu cheiro
Ainda mais acentuado agora,
Na ausência.

Sinto você mais em mim
Em sua falta.
Lhe entendo mais hoje,
Do que quando tinha sua voz para me fazer compreender
Aquelas coisas que eu nunca entendi.

Te vejo em alguns lugares, e parece que você não foi a lugar nenhum.
Está aqui,
Mais próxima que naquele dia.
Havia algo de estranho em você...
Eu quase não te reconheci, naquele dia.

Não se impressione se não quiz te perguntar.
Existem coisas que não se perguntam, justamente porque ninguém quer
[responder.
Deve ter sido por isso que eu aprendi a ouvir o silêncio.

Tenho escutado muito ao silêncio ultimamente.

Tenho ignorado quem você foi e te lembrado como eu gostaria que fosse.
Tenho sido o que você gostaria que eu fosse, só para agradar a companhia doce
[da sua falta.
Conheço ainda mais as curvas do seu corpo agora, nas lembranças.
Observo ,sem cautela, a sua respiração, os seus traços...

Nós bem que poderíamos ser exatamente assim, como em sua ausência; bem
[diferente daquele dia.
Eu quase não te reconheci.

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quinta-feira, julho 14, 2005

O PIOR

"O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso."
Mario Quintana - Caderno H

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sábado, julho 09, 2005

Palavras Mudas

Olhou-me,
Como se não compreendesse.
Num ritmo lento
De respirar.

A respiração dela desregulava a minha.

Tentou me agradar.
Tentou dizer algo.
Me abraçar.
Carregava uma tristeza no olhar.

Eu nuca vira tristeza tão bela.

Tentei lhe falar.
As palavras não vinham.
Forcei-as,
Não consegui explicar.
Não queria explicar.
Então silenciei.

Ela sempre entende meu silêncio.

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domingo, julho 03, 2005

A solidão - II

Estendia de pé em frente ao espelho Mariana divagava seus pensamentos de menina imitando o silêncio do seu apartamento. Não que tivesse a intenção de esconder o que pensava, mas mesmo por falta de alguma audiência concreta fora a si própria refletida – já estava bem grandinha para falar com a própria imagem - Mantendo a ponta do nariz achatada à face do espelho, olhava atenta ao seu mesmo olhar atento que por sua vez voltava atenção ao espelho que refletia seu olhar e assim por diante. Lembrava, quando pequena, se distraia com este artifício-mágico do infinito de repetições que possui um espelho. Se ver refletir era algo fascinante. O vidro da mesa de jantar da sala então era inusitado: com seus joelhos numa cadeira alta observava ao teto da casa projetado, como se existisse um mundo do avesso sob si. Seu sonho era pisar naquela imagem como se fosse um chão diferente, um lugar ao contrário. Como deveria ser divertido, pensava. Mas com doze anos de idade esses encantos acabaram, um espelho apenas isso: um espelho.

Voltou ao quarto olhando sem animar algum dos seus brinquedos espalhados pelo chão que já tinham sido gasta toda diversão. Ainda era cedo, teria algumas horas até que fosse noite, horário milagrado pela chegada de seus pais. Iria ter lasanha para o jantar , avisava a Lurdes, preparando à massa em sua frente na cozinha – o que teria dispensado o aviso- recomendando que não comesse o biscoito que roubara da dispensa para não perder o apetite. Mas não queria esperar para comer, a hora da tarde que sentia mais fome e não era só fome de comida. Era fome de algo diferente. Fome de coisa. Fome de vento. Fome de. Na verdade, não queria tanto lanchar, queria mesmo ir andar de patins. Mas não gostava de ir sozinha, temendo ao seu desjeito de principiante, que fazia se sentir observada por todos quando descia ao playground do prédio, repleto de meninos de sua idade em férias como a si. A Lurdes estava meio ocupada com a lasanha para lhe fazer companhia além de que não era muito adequado há uma menina da sua idade ir brincar acompanhada dela, como se fosse uma babá. A mãe ficava doida de preocupação quando via que não tinha companhia para brincar, não conseguia fazer amigos; felicidade foi tamanha quando a psicóloga aconselhou um animal de estimação. Sua vida quando pequena era aquele cachorrinho a quem chama de Murfy, sua melhor amizade. Chegava do colégio em disparate ao seu encontro, arremessando a mochila sem interromper a corrida para abraçá-lo. Mas nessas horas, mesmo tendo o amigo ao seu lado, não se conformava muito bem com sua presença. Não era simplesmente de um cachorro que precisava, talvez sua analista tivesse se enganado. Ela queria alguém pra andar de patins e isso Murfy não podia fazer. Ele só sabia mesmo fazer as mesmas brincadeiras como qualquer outro animal de estimação.

Na varanda observava os meninos que jogavam bola, um deles não era do seu mesmo prédio, estava certa disso. Mas o outro tinha se mudado agora a pouco e era o predileto dela na vizinhança. Não que o conhecesse, mas o gostava de observá-lo. Seria seu amigo um dia, desejava. Mas não sabia como forjar uma aproximação dele ou de ninguém, não tinha o segredo de fazer amizades, tinha crescido uma menina ruim-de-amigos e também não tinha idéia a quem perguntar como se aprende. Em frente à tv da sala, esperava o sono lhe vencer depois de ter acabado mais um pacote de biscoitos enquanto não começava a novela que mais gostava. Naquele horário ela podia se distrair com a companhia dos personagens e esquecer um pouco o silêncio do apartamento. Mas enquanto não chegava a hora ficava imaginando como seria conhecer os meninos que estavam na quadra naquele dia. O pequeno que ela gostava, principalmente. O que diria a ele? Vai ver nem sabe o seu nome, imaginava. A menina da cobertura todos conheciam: Júlia, era a que fazia as reuniões dos da sua idade em sua casa, sabia disso mesmo sem nunca ter participado. A do terceiro era a mais bonita, Raquel, doze anos, cara de quinze. Mas ela era só mesmo uma pessoal normal. Uma menina, comum. A Mariana.

Naquela noite então, foi o pai o primeiro a chegar. Nem sabia que voltaria neste dia já de viajem depois de estar fora mais de uma semana. Despertou-a ainda no sofá murmurando em seu ouvido com seu instinto paterno-cauteloso "Minha filha linda... Como você está?" Seus olhos abriram em atenção à voz do pai. Às vezes, nesses momentos desejava lhe dizer muitas coisas. Falar-lhe dos meninos do prédio, lhe contar do silêncio do apartamento e do seu desjeito para patins. Por muitas vezes hesitava ao rondar seus olhos na espera de sua resposta. Mas Mariana, como qualquer filha-única desta idade só sabia mesmo ser adorável. Abraçou-o, sem demora. "Estou bem, papai. E você?"

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sexta-feira, julho 01, 2005

Contradições

"... mas o que eles não sabem levar em conta é que o poeta é uma criatura essencialmente dramática, isto é, contraditória, isto é, verdadeira.E por isso, é que o bom de escrever teatro é que se pode dizer, como toda a sinceridade, as coisas mais opostas.Sim, um autor que nunca se contradiz deve estar mentindo."
Mário Quintana

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